Segue orientação do delegado Victor Maranhão, da 106a Delegacia. (Petrópolis)
O golpe da extorsão por telefone em que criminosos se passam por traficantes ou milicianos é uma prática comum no Brasil, explorando o medo da vítima para obter dinheiro rapidamente. Nesse esquema, os golpistas ligam para um número aleatório e, ao serem atendidos, assumem uma postura agressiva, dizendo ser membros de uma facção criminosa ou milícia local. O objetivo é intimidar a vítima, levando-a a acreditar que está sob ameaça real, e assim pressioná-la a transferir uma quantia em dinheiro para garantir sua própria segurança.
Hoje em dia, é de fato muito fácil para criminosos acessarem informações como o endereço, CPF e outros dados pessoais de qualquer indivíduo. Isso ocorre devido à disponibilidade de dados em sites pagos de proteção ao crédito, que possuem extensas bases de dados com informações pessoais. Embora sejam serviços destinados à análise de crédito, alguns desses dados acabam vazando ou sendo acessados por meio de práticas ilegais, facilitando a obtenção de informações por estelionatários.
Além disso, os criminosos aprimoraram suas táticas de intimidação utilizando ferramentas como o Google Maps. Após obterem o nome e o endereço da vítima, eles acessam imagens da fachada da casa ou prédio e, durante a ligação, descrevem detalhes visuais do local para tornar a ameaça ainda mais realista. Eles podem dizer, por exemplo, “Estou vendo a fachada da sua casa, é aquele prédio amarelo de portão preto, não é? Já sabemos onde você mora”.
Essa prática causa um forte impacto psicológico, pois a vítima percebe que o criminoso tem informações que parecem altamente específicas, aumentando o pânico e a possibilidade de ceder ao pagamento exigido.
Como o golpe é realizado
- Abordagem intimidadora:
O golpista começa a ligação com ameaças diretas, muitas vezes sem dar oportunidade de questionamento. Em geral, ele se identifica com nomes genéricos de supostos chefes do crime, como “Comando da área”, “Chefão do morro”, ou mesmo como um “gerente” de milícia. É comum usar termos como “Aqui quem fala é o patrão da área onde você mora”. - Detalhes para causar medo:
Durante a conversa, o criminoso pode alegar que sabe onde a vítima mora, onde seus familiares trabalham ou estudam, mesmo que, na realidade, essas informações não sejam verdadeiras. Eles utilizam dados genéricos ou coletados superficialmente de redes sociais e outras fontes públicas para dar a impressão de conhecimento. - Exigência de valores:
Em seguida, exigem uma transferência bancária, PIX ou outro método de pagamento para “garantir a segurança” da vítima e evitar retaliações. A ameaça é direta, e frequentemente eles afirmam que algo “vai acontecer” caso não recebam o valor solicitado. Alguns ainda podem estipular que o valor é uma “taxa de proteção” ou “mensalidade”. - Ameaça de ações violentas:
Muitos golpistas ameaçam explicitamente fazer “uma visita” ao endereço da vítima, sequestrar ou agredir familiares, incendiando bens ou danificando propriedades caso não sejam pagos.
Exemplos comuns de frases usadas pelos criminosos
- “Aqui quem fala é o comando da sua área, e a gente sabe onde você mora.”
- “Se você não colaborar, vamos pegar alguém da sua família. Já sabemos onde sua filha estuda.”
- “Nós somos a milícia da área e cuidamos da segurança, você precisa pagar pela proteção.”
- “Eu tenho gente vigiando sua casa agora, a decisão é sua: ou paga ou a gente vai até aí resolver.”
- “Estamos com ordens para limpar a área de quem não colabora com a gente. Não queremos problemas, é só você transferir.”
Recomendações para lidar com esse tipo de golpe
- Mantenha a calma e não reaja com medo:
Lembre-se de que os criminosos estão tentando explorar o medo e a reação impulsiva. Manter a calma é essencial. - Desligue a ligação:
Não se prolongue na conversa e evite fornecer qualquer informação pessoal. - Evite transferir dinheiro:
Sob nenhuma hipótese realize transferências. É importante também não fornecer detalhes financeiros ou documentos. - Denuncie o golpe:
Informe a polícia e registre boletim de ocorrência. Em muitos casos, esses criminosos estão presos e fazem as ligações de dentro de presídios. - Informe a família e vizinhos:
Avise as pessoas próximas sobre o golpe para que não sejam surpreendidas e, caso recebam chamadas similares, saibam como agir.
